16 setembro 2012

O HOMEM QUE SABIA COMO SE ALCANÇAVA A FELICIDADE DOS FRANCESES

Com os desembarques norte-americanos nas colónias francesas do norte de África em 8 de Novembro de 1942 a frágil neutralidade que o regime de Vichy mantivera depois da derrota do Verão de 1940 desapareceu como por magia. Na própria noite da véspera do desembarque, o Marechal Pétain (acima) recebera consecutivamente uma mensagem pessoal do Franklin Roosevelt entregue pelo encarregado de negócios Sommerville Pinkney Tuck e, algumas horas depois, outra de Adolf Hitler, entregue pelo cônsul-geral alemão, Roland, Krug von Nidda. O objectivo de ambas era levar o Chefe do Estado a optar mas, enquanto a primeira procurava ser persuasiva, a segunda era autoritária e, além disso, convocava o chefe de governo Pierre Laval para o dia seguinte em Munique, onde estava a decorrer uma cimeira germano-italiana.
À volta do Marechal, como numa corte, havia dois clãs com duas concepções antagónicas quanto à participação da França no conflito. Nas intrigas, antecipava-se o endurecimento das medidas impostas pelo ocupante alemão, havia quem sugerisse que se aproveitasse o pretexto delas para que Pétain partisse para um exílio em Argel, e que a França regressasse às suas alianças naturais. Enquanto um intranquilo Pierre Laval se preparava para a obrigatória viagem de 850 km (por estrada…) deixando atrás de si uma corte fervilhante, um dos expoentes da facção anti-alemã, o General Maxime Weygand, trocou com o antagonista um diálogo tão ácido quanto memorável: – Senhor Laval, tem contra si noventa e cinco por cento dos franceses.Pode mesmo dizer noventa e oito por cento, senhor General, mas fá-los-ei felizes apesar disso.
A viagem, atrasada pelo nevoeiro, durou quase um dia inteiro. Só às 4 da madrugada de 10 de Novembro é que um Pierre Laval esgotado chegou a Munique. Mas desde as 11 horas da manhã que se postou à espera naqueles mesmos salões onde, quatro anos antes, um outro chefe de governo francês, Édouard Daladier, havia oferecido sem resistência a Checoslováquia ao mesmo Adolf Hitler. Depois de uma seca desconfortável num ambiente repleto de fardas alemãs, que o francês tentou amenizar com aquelas piadas ligeiras de salão que ali não tinham efeito, Hitler acabou por o receber. Mas, ao contrário de Daladier, Laval já nada tinha para oferecer que Hitler não pudesse tomar. Ao sair da reunião, encantado com o seu poder de persuasão, Pierre Laval precipitou-se para o telefone, para que em Vichy nada se decidisse antes do seu regresso...
Infelizmente esquecera-se de avisar o próprio Hitler… Ainda se estava a fazer à estrada na manhã de 11 de Novembro (aniversário do Armistício de 1918…) e já o governo que chefiava havia recebido em sucessão três notas e o Marechal Pétain uma visita inesperada. A primeira, ainda datada de 10 de Novembro às 23H50, convidava a França a aceitar a presença militar alemã e italiana no seu protectorado da Tunísia. A segunda, datada das 02H00, ignorava a primeira e informava que os desembarques na mesma Tunísia já haviam começado. A terceira, às 05H30, era para informar que as unidades alemãs haviam entrado na França não ocupada. A visita, a uma hora já menos matinal, era a do Marechal Gerd von Rundstedt, um dos decanos entre os marechais alemães, para amenizar a invasão, como uma deferência para com o seu homólogo francês.
Há ocasiões em que a intermediação política às vontades de um poder exterior acaba por se revelar um logro em que só o próprio acredita. Os franceses, ingratos com tanta felicidade condicionada, e após um julgamento quase sumário em cinco dias (acima), executaram Pierre Laval em 15 de Outubro de 1945…

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